A Função Da Pele No Ciclo Vital

A função da pele no ciclo vital

Hoje iremos abordar a estrutura e os mecanismos da função de barreira cutânea, nas diferentes etapas da vida, do nascimento à senilidade, e a essa junção de etapas, daremos o nome de “Ciclo Vital”.

A pele considerada órgão de proteção vital, o maior do corpo humano, um verdadeiro manto protetor, para cumprir todas as suas funções com êxito, necessita estar íntegra e hidratada, e essa condição está intimamente ligada a função de barreira. Do ponto de vista histológico, divide-se em três camadas: Epiderme, Derme e Tecido Subcutâneo, que ao longo do Ciclo Vital sofrem inúmeras alterações. Mas é a Epiderme, camada mais externa e avascular, que por meio de três mecanismos:  Síntese e equilíbrio do Manto Hidrolipídico (MH), Regulação da Perda Transepidérmica de Água (PTEA) e pH acidificado, que exerce a função de barreira deste importante manto protetor.

Composta por cinco camadas: estrato córneo, lúcido, granuloso, espinhoso e germinativo, a epiderme atinge espessura “ideal” na vida adulta e varia de 1,5 a 4,0mm, no idoso e recém-nascido de termo (RNT) ela mostra-se mais delgada, cerca de 70% em relação ao adulto e no  recém-nascido prematuro (RNP)  a espessura é ainda menor, 50%.2  Essa variação de espessura, altera o desempenho da função de barreira da pele, quanto mais delgada, mais permeável a absorção de substâncias tópicas, consequentemente, maior risco de alergenicidade cutânea. Uma vez que, o potencial de risco para dermatites comprovadamente está relacionado à espessura da epiderme,1,2,4é fundamental que os profissionais de saúde que atuam na prevenção e tratamento de lesões de pele conheçam as formulações e os princípios ativos tópicos empregados para esses cuidados.

Outro ponto relevante para compreensão da função de barreira, é o sítio de atuação e produção dos três mecanismos envolvidos, e localizados na camada mais externa da epiderme o Estrato Córneo. Conforme mencionado anteriormente, o primeiro mecanismo é o MH, composto por uma emulsão do tipo água e óleo, na qual a água provém das glândulas sudoríparas e o sebo “lipídios” das glândulas sebáceas, essa emulsão protege a pele contra evaporação excessiva.

No ciclo vital, a maturidade do estrato córneo, a produção do MH e a junção dos corneócitos (células ricas em queratina e lipídeo) tem bom desempenho no adulto, o idoso apresenta limitações na produção MH, a junção dos corneócitos é ineficaz e o número dessas células é reduzido, implicando em menor concentração dos lipídeos. No RNP e RNT a deficiência do MH deve-se à baixa atividade das glândulas sebáceas. 1 No entanto, nas primeiras 48 horas de vida  eles dispõe do Vérnix Caseoso, produzido a partir da 20º. Semana de gestação, e composto por um sebo esbranquiçado, sintetizado  pelas glândulas sebáceas, desempenha papel protetor para hidratação, regulação de temperatura e ação antimicrobiana.

O segundo mecanismo de função barreira é a PTEA, que nas diferentes etapas da vida que compõe o Ciclo Vital sofre aumento. Quanto maior a PTEA, mais desidratada a pele se tornará. A falha desse valioso mecanismo de hidratação cutânea pode causar XEROSE, com seus sinais e sintomas clássicos: ressecamento, descamação, fissuras, vermelhidão e ocasionalmente sangramento.2 Aplicação frequente de hidratantes tópicos, sejam os oclusivos, umectantes, emolientes ou reparadores proteicos, com formulações específicas e que atendam os diferentes tipos de pele no Ciclo Vital, reduzem a  PTEA e contribui no restabelecimento do MH e na integridade da pele, tornando-a mais resistente as agressões externas.

O pH cutâneo compõe o terceiro mecanismo de função de barreira. O pH da pele é ácido e dependendo da região corporal varia entre 4,2 e 5,9, essa característica decorre da presença do ácido lático, suor, e em menor quantidade, ácido glutâmico e aspártico.1,2,5 A manutenção do pH garante o sucesso do mecanismo de hidratação e imunidade cutânea, e sua alcalinização reduz a produção dos lipídeos, provoca aumento da permeabilidade da pele e favorece a proliferação de microorganismos.

O adulto tem boa facilidade para manter os níveis ideais de pH, em contra partida, na senilidade, especialmente acima dos 80 anos o pH torna-se tão alcalino que aumenta o risco de infecção tegumentar, no RNT o pH é alcalino e estabiliza-se por volta do 2º. Dia de vida, enquanto que o RNP somente após o 8º. dia de vida ou mais.2 A frequência e os produtos empregados para a higienização da pele, pode provocar alterações do pH, portanto, é fundamental escolher recursos que se proponham a manter o pH cutâneo. O emprego de sabonetes em barra é uma das causas mais frequentes de irritação e desidratação da pele, pois são alcalinos. Recomenda-se o uso de sabonetes líquidos e com pH compatível com a pele, sem perfumes ou de fragrância suave.

Inúmeras ações são necessárias para preservação desse complexo manto protetor, mas conhecer os mecanismos de função de barreira cutânea no Ciclo Vital, os cuidados e os critérios a serem adotados para manter a integridade da pele, é um passo fundamental para o exercício da prática clínica segura.