O Que Você Deve Saber Sobre Os Cuidados Com A Cicatriz Após Cirurgia Plástica

O que você deve saber sobre os cuidados com a cicatriz após cirurgia plástica.

Sempre que ocorre uma lesão da pele ou qualquer outro tecido do corpo, acidental ou cirúrgico, haverá uma cicatriz, devido aos mecanismos próprios da cicatrização. Por isso, uma cicatriz é uma marca definitiva. No entanto, o que pode variar é a qualidade da cicatriz. Uma cicatriz de boa qualidade deve ser fina, plana, com coloração semelhante ao local em que está e bem posicionada, ou seja, ficando “escondida” ou quase imperceptível no convívio social.

Além da preocupação com o resultado final de quem pretende fazer uma cirurgia plástica, a cicatrização da pele sempre é uma preocupação a mais. Afinal, a formação de uma cicatriz não agradável pode comprometer o resultado final da operação.

Existem basicamente dois tipos de cicatrizes patológicas (queloides e hipertróficas) e outras classificadas como cicatrizes inestéticas (alargadas, deprimidas, discromicas, alçapão, mistas, etc).

Os dois tipos de cicatriz patológicas são com frequência confundidos pelos pacientes e também pelos médicos em geral, pois são muito parecidos na fase inicial.

As cicatrizes patológicas podem causar dor importante e/ou coceira tão intensa a ponto de interferir no convívio social da pessoa. Portanto, o tratamento desse tipo de cicatriz não é um procedimento apenas estético.

Os outros tipos de cicatrizes que não chegam a ser patológicas, mas sim inestéticas (não estéticas ou não agradáveis – alargadas, discromicas, retraídas, mistas, em alçapão) quase não apresentam sintomas físicos, mas de certo modo interferem no convívio social da pessoa que de alguma forma apresenta algum preconceito em expor a aparência daquela cicatriz.

Cicatriz Normal

A cicatrização é um processo natural de cura de qualquer ferimento na pele decorrente de um acidente, cirurgia ou doença, que deixa no final um sinal físico chamado cicatriz.

Uma cicatriz aceita como agradável, estética ou normal, deve ser fina, sem relevo na pele, de coloração semelhante à da pele local e, às vezes, torna-se quase imperceptível. Mas existe um período de evolução onde a aparência da cicatriz sofre alterações físicas típicas de cada fase.

Assim existem aparências não agradáveis, mas consideradas normais para a fase de amadurecimento.

Ação do tempo (Amadurecimento da cicatriz)

Geralmente, a cicatriz torna-se menos notável com o passar do tempo. Muitas cicatrizes, inicialmente inestéticas, tornam-se aceitáveis após um período variável de três a 18 meses ou mais. Isso é um processo natural de evolução da cicatriz.

Cicatrizes Patológicas e Inestéticas

A pele jovem por comumente produzir colágeno de forma mais acelerada que sua degradação tende a determinar uma cicatriz evidente (queloide ou cicatriz hipertrófica) isto é, maiores, mais elevada e espessa do que aquela que ocorre na pele de pessoas idosas. Quando a quantidade de colágeno depositada na cicatriz é menor do que devia, a cicatriz final pode aparecer deprimida, ou atrófica, em relação à pele ao redor. Essas cicatrizes são em parte devido a fatores individuais da paciente como no queloide, mas na maioria são decorrentes da técnica cirúrgica aplicada durante a cirurgia.

Queloide

É uma cicatriz espessa e elevada. Essa cicatriz em alto-relevo, geralmente, é limitada à pele, embora se estenda para os lados em relação ao ponto, ferimento ou incisão cirúrgica de origem. Devido ao fato de crescer e invadir pele vizinha, o queloide é considerado por pesquisadores como um tumor benigno cicatricial. O queloide ocorre na pele, e é um distúrbio que somente existe em humano (queloide tem maior incidência em pele negra).

Cicatrizes Hipertróficas

É uma cicatriz elevada decorrente de uma resposta exagerada da pele a uma intervenção cirúrgica ou ferimento, cicatriz essa que não ultrapassa os limites ou a extensão da incisão ou ferimento inicial. Apresenta tendência à regressão; distingue-se, assim, do queloide, que geralmente estende-se espacialmente em relação ao tamanho original da incisão cirúrgica ou ferimento. Entretanto, é usualmente confundida com o queloide; por isso, a cicatriz hipertrófica é também conhecida como “pseudoquelóide” ou queloide falso ou não verdadeiro. A frequência de cicatriz hipertrófica é maior que de queloide.

Cicatrizes Retraídas

Cicatriz retrátil (ou cicatriz contrátil) é aquela que se apresenta tensa e repuxando, causando contratura entre os segmentos corporais envolvidos. Pode resultar de um ferimento que provoque a perda de uma área de pele, por intervenção cirúrgica (figura 1), acidente (figura 2) ou queimadura (figura 3), podendo assim formar uma cicatriz que traciona as margens da pele. Essa tração causa um processo chamado de contração. A retração resultante, além de causar dor, pode afetar um músculo e tendões vizinhos e restringir o movimento normal. Pode ainda ocasionar um transtorno maior do sistema esquelético, como um desvio do crescimento ósseo ou da coluna vertebral. Assim, a cicatriz retrátil não é somente inestética, podendo ser também, frequentemente, considerada uma cicatriz patológica.

Cicatriz Alargada

Cicatriz apresenta-se mais rasa, frouxa e esparramada. Pode resultar de cicatrizes em pele mais fina que ficaram sujeitas a tensão nas margens, ou em casos onde houve ruptura de pontos de sutura internos ou externos, e houve, a seguir, cicatrização de uma ferida aberta (cicatriz por segunda intenção).

Cicatriz Atrófica

Cicatriz mais profunda (afundada) que o relevo da pele ao redor (figuras 3 e 4). Pode ser causada por cicatrização em pele muito fina (como de pessoa idosa), em sutura ou ferimento que evoluiu com tração nas margens ou infecção; também pode decorrer em pessoas com distúrbios de cicatrização decorrente de diabete ou qualquer outra doença metabólica, pessoas com carências nutricionais ou em regiões corporais com alterações neurológicas sensitivas como, por exemplo, as decorrentes de paraplegia por lesão medular.

Cicatriz Discrômica

Cicatriz mais escura ou clara que a pele ao redor; pode resultar, mais comumente, em pessoas com cor de pele parda (mulatos), em cicatrizes que ficaram submetidas precocemente aos raios ultravioletas do sol, ou em cicatrizes tratadas previamente com determinados fármacos, como ácidos e corticoides ou pela técnica cirúrgica aplicada pelo cirurgião. (ver exemplo abaixo)

Cicatriz Mista

Cicatriz que intercala em seu trajeto mais de um tipo cicatricial pode resultar da associação de um ou mais dos tipos de cicatrizes acima citados, ou inclusive, em combinação com uma cicatriz patológica, como o queloide ou cicatriz hipertrófica, ou até ambas simultaneamente.

Cicatriz “em alçapão”

Cicatriz de trajeto curvo (em forma da letra “C” ou “U”), que por isso acumula líquido linfático em sua região central, o que faz que mais tarde o centro fique mais saliente (veja a seta) que a cicatriz propriamente dita pode resultar em consequência de ferimentos onde porções de pele foram levantadas (retalhos cutâneos) por fragmentos de vidro ou por queda acidental.

Cicatrizes por queimadura

As queimaduras, assim como outros ferimentos que resultem em perda de uma grande área de pele, podem formar uma cicatriz que repuxa as margens da pele ao redor, causando um processo chamado de contração. Assim, é comum que o resultado final de uma cicatriz por queimadura seja uma cicatriz contrátil, ou também chamada de cicatriz retrátil. A contratura resultante pode afetar os músculos e os tendões vizinhos, restringindo o movimento normal (capacidade funcional) dos mesmos e, por conseguinte, da região do corpo acometida. Após algum tempo, esse fato pode ocasionar, inclusive, deformidade óssea e/ou articular.

Corrigir uma contratura envolve, geralmente, substituí-la por retalho ou enxertos de pele (transplantes de pele com irrigação sanguínea própria ou a partir do leito receptor, respectivamente). Em alguns casos um procedimento conhecido como Zplastia pode ser usado. Novas técnicas, como a utilização de expansor de tecido (pele) vizinho à lesão, tem sido cada vez mais utilizada. Se a contratura não for recente, o paciente pode necessitar de fisioterapia após a cirurgia para restaurar os movimentos. Em alguns casos um procedimento conhecido como Z-plástica pode ser usado. Novas técnicas, como a utilização de expansor de tecido (pele) vizinho à lesão, tem sido cada vez mais utilizada. Se a contratura não for recente, o paciente pode necessitar de fisioterapia após a cirurgia para restaurar os movimentos.

Fatores que influenciam na cicatriz

O aspecto da cicatriz depende de vários outros fatores como a localização no corpo, sentido da cicatriz em relação a linhas naturais da pele, comprimento, largura, profundidade, formato da cicatriz, características genéticas de cada indivíduo. Por exemplo, pacientes com cor de pele escura ou de origem oriental apresentam, probabilisticamente, maior risco de desenvolver cicatrizes discromicas e/ou hipertróficas e, em contrapartida, pacientes idosos possuem maior chance de terem cicatrizes finas e mais estéticas.

Técnica cirúrgica

A qualidade de uma cicatriz é determinada pelos fatores genéticos, fatores da lesão (localização, sentido, etc) e também pela técnica cirúrgica empregada pelo cirurgião. Desde o momento da incisão até o fechamento da ferida cirúrgica existe uma série de fatores que influirão sobre o resultado estético, o tratamento e o prognóstico da cicatriz.

Cuidados pós-cirúrgicos

O processo de cicatrização da pele leva vários meses para definir o aspecto final da cicatriz, mas durante esse processo podemos atuar para que o resultado final seja o melhor possível.

Tratamento de Cicatrizes

O tratamento adequado das cicatrizes, fundamental após qualquer cirurgia plástica, pode ajudar a evitar o aparecimento de cicatrizes hipertróficas e queloides. Atualmente, os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos se tornaram valiosas ferramentas de auxílio a técnicas consagradas como a realização de curativos biotecnológicos, massagens com cremes específicos e a utilização de placas de silicone, usadas para acelerar o amadurecimento das cicatrizes.

Mas indiscutivelmente a técnica utilizada pelo cirurgião ao realizar a sutura (dar pontos) é o fator mais importante no resultado final da aparência da cicatriz, assim a técnica apurada (delicada), sem machucar a pele, a escolha de fios de sutura apropriados e agulhas delicadas, evitar tensão na cicatriz, são preceitos básicos para o cirurgião plástico obter uma boa cicatrização.

O objetivo final é sempre utilizar as técnicas e materiais mais refinados na tentativa de obter cicatrizes finas e praticamente imperceptíveis.

Probabilidade de formar uma cicatriz inestética

O aparecimento de um queloide ou cicatriz hipertrófica tem sido um desafio constante (ou melhor, um tormento) no pós-operatório de qualquer tipo de intervenção cirúrgica. Porém, é na Cirurgia Plástica que esse transtorno assume proporções mais angustiantes ao paciente e, principalmente, em cirurgias estéticas. As pessoas com queloide ou cicatrizes hipertróficas por intervenções cirúrgicas estéticas, infelizmente, sabem muito bem disso.

Entretanto, se você tem vontade de realizar uma cirurgia plástica estética e, atualmente, é portador(a) de queloide ou de cicatriz hipertrófica, ou já teve essas cicatrizes patológicas no passado, mantenha o ânimo. A prevenção de um queloide ou cicatriz hipertrófica tem sido possível e cada vez mais frequente.

Hoje conseguimos prever o risco potencial de desenvolvimento de uma cicatriz patológica ou inestética, considerando os fatores antes citados, e assim, agir para favorecer uma melhor evolução cicatricial. Para isso, o cirurgião plástico deve realizar o melhor planejamento possível na escolha das melhores medidas para esse fim. Deve examinar o tipo de pele, assim como os antecedentes cirúrgicos do paciente, para avaliar o risco de o mesmo desenvolver uma cicatriz inestética, cicatriz hipertrófica ou queloide. Para uma cirurgia plástica, assim como para qualquer outra, possuímos recursos para prevenir e reduzir, ao mínimo possível, o aparecimento de um queloide ou cicatriz hipertrófica.